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Origens dos sobrenomes e breve história do uso da Heráldica



           A maioria dos sobrenomes são formados por uma lógica simples sobre a história da família que o carrega. Ou seja, eles significam de onde veio a família, ou qual era o ofício dela ou quem é o patriarca. Os sobrenomes começaram a ser utilizados quando ouve a necessidade de se identificar ou de identificar a família. Alguns dizem que começou na Roma antiga, quando as famílias que hoje vemos como tradicionais e a monogamia começou a ser comum na sociedade. Era importante identificar a origem do indivíduo. Mas essa questão pode ter surgido e desaparecido ao longo do tempo em diversos lugares do mundo. Vale ressaltar que as classes mais altas eram as que tinham mais necessidade e registros para identificar a origem da sua família. Enquanto que as classes mais baixas, quando essa questão chegou a ela e começaram a dar apelidos para as pessoas, muitas pegaram apelidos relacionados a região onde moravam ou de quem eram filhos. Portanto podemos dividir os sobrenomes em: toponímico e patronímico.
            Os sobrenomes de locais, ou em um termo mais apropriado toponímico, podem ser uma cidade, uma vila, uma região, uma formação natural, etc. Significa que essa família veio de tal lugar. Ou como temos nomes que são também nomes de cidades e regiões. Como temos Bergamo, que seria a família que veio de Bergamo, uma cidade na Itália. Como temos Rocha, que significa que essa família veio de uma região rochosa. No mesmo sentido podemos incluir Ribeiro, que é um tipo de rio ou nascente de rio, que seria a família que morava na ribeira, a beira do rio. Como temos Cardoso, que seria a família que vem de uma região com muitos cardos, que é um tipo de flor.
            Os nomes patronímico são os nomes que tiveram origens no patriarca da família, ou seja, significa literalmente que a pessoa que porta esse sobrenome seria filho de tal pessoa. Como temos Nunes, Fernandes, Bernardes, Martins; esses nomes significam respectivamente filho do Nuno, filho do Fernando, filho do Bernardo, filho do Martin. Esse tipo de formação de sobrenome pode ser considerado a mais comum do mundo. Podemos ver que também é um tratamento comum em comunidades de menor densidade populacional, como vilas ou aldeias, onde as pessoas se conhecem melhor, chamar uma as outras de “filha de tal pessoa”, é justamente essa a origens dos sobrenomes patronímicos.
            Alguns sobrenomes fogem a essas regras, se é que se pode chamar de regra, e são nomes de características ou palavras com grande significado. Esses nomes foram passados junto com a necessidade de identificar uma família, porém nem sempre podem apresentar uma lógica para a sua formação. Isso não os faz menos legítimos, só um pouco mais difíceis de serem estudados. Na minha vida pessoal me deparei com o sobrenome Calil, de origem árabe significa amigo íntimo. Não consigo tirar muito mais informação do que a tradução árabe para o português. Lembrando que a formação de sobrenomes como conhecemos hoje não é exclusividade europeia.
            Há também aqueles sobrenomes que podemos dizer que são históricos, podendo contar no seu nome uma parte da história daquela família. Aqui gostaria de incluir dois tipos de sobrenomes: aqueles que contam parte da história da família e os Cristãos Novos. A começar com o que conta parte da história da família: temos por exemplo o sobrenome Machado, a sua origem se deu na conquista de Santarém pelos cristãos. Durante o ataque a cidade moura, muitos homens usaram machados na falta de espadas e esses ficaram conhecidos pelo seu feito de conquistar a cidade usando machados. A partir de então surgiu o sobrenome Machado, que eram os homens que conquistaram Santarém usando machados. Os Cristão Novos são uma peculiaridade da península ibérica. Entre os séculos XIII e XV, inúmeras famílias foram convertidas para o cristianismo e tiveram os seus bens confiscados pela Espanha e Portugal. Essas famílias receberam novos nomes relacionados a animais ou a plantas. Que é uma das teorias para o caso do nome Carneiro, família de origem judaica que teria conquistado grande importância na política portuguesa.
            A Heráldica é o estudo dos Brasões de Armas e ela entra na história dos sobrenomes porque em uma época onde a maior parte da população era analfabeta, os Brasões de família serviam como uma forma de identificar a pessoa. Enquanto que o sobrenome servia para contar a sua história ou origem, o brasão servia para mostrar através de símbolos a sua história e origem. Só as famílias mais nobres tinham o brasão e também era quase exclusividade de famílias europeias. Essa arte foi desenvolvida no século XII e usada até os dias atuais. Cidades e Estados também podem ter os seus próprios brasões de armas. Abaixo uma breve análise sobre o brasão de armas da cidade do Rio de Janeiro:


            O escudo é um escudo ibérico, que mostra que é uma ordem da península ibérica. Como o Rio de Janeiro é uma cidade fundada por Portugueses, ela herdou várias características portuguesas e o seu brasão de armas não poderia ser diferente. Encima do brasão temos a coroa de muralha, que representa quando a cidade era capital do país. Vale lembrar que o Rio de Janeiro foi tanto capital de Portugal quanto do Brasil. Do lado esquerdo um ramo de carvalho representando a força e no lado direito um ramo de louro representando a vitória. Os golfinhos que carregam o brasão representam que é uma cidade marítima. As armas do brasão são: as três flechas de São Sebastião, o padroeiro da cidade, o barrete no coração que representa a república e a esfera armilar manuelina que faz referência ao rei Manuel I que era o regente quando o Brasil foi colonizado por Portugal.

            Voltando para a questão dos nomes, os brasões de armas eram usados para marcar as cadeiras nas catedrais, ou em feiras, nos túmulos, ou como ornamentos nos palácios. Podemos ver em vários museus de arqueologia brasões de armas esculpidos em pedras, eram de famílias que vivam naquela região. Eu, como moradora de Évora, já encontrei alguns brasões no museu de Évora, como o da família Costa, como vamos ver abaixo.

            
       O brasão de armas Costa possuí três faixas brancas em pala de cada lado em um fundo vermelho em um escudo ibérico. Dizem que essas faixas não seriam ossos, mas sim uma ferramenta de sapateiro. É uma família Cristã Nova, ou seja, convertida recentemente para o cristianismo. Quando vemos um Brasão de Armas com várias divisões significa que aquele brasão não pertence a uma família e sim a um indivíduo, como podemos ver esse escudo abaixo que provavelmente pertencia a uma pessoa com dois sobrenomes, um deles o sobrenome Costa.


Portanto podemos ver que enquanto que os sobrenomes servem hoje em dia para contar uma história, os Brasões de Armas também serviam para contar uma história em uma sociedade analfabeta. Os sobrenomes foram necessários para identificar uma pessoa e por isso muitos levavam nomes da região de que vieram ou viviam. Essa prática não era necessária apenas na Europa, pois há registros de pessoas com sobrenome em várias outras etnias.



FONTES:

MEDIUM. A origem dos sobrenomes. Último acesso em 01/05/2020. Disponível em <https://medium.com/@tg160782/a-origem-dos-sobrenomes-2ff5f6598273>
Apostila do curso de Heráldica pela UNIRIO.
FAMÍLIA COSTA. Último acesso em 01/05/2020. Disponível em <http://franciscoguiacm.blogspot.com/2013/06/familia-costa.html>

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