Esse texto tem como objetivo servir de complemento para
as lives no perfil do Instagram @tuifotografia. Também é importante lembrar que
se trata de um país oriental sob o ponto de vista de uma pessoa educada como ocidental.
Portanto é possível que tenha interpretações diferentes e as fontes bibliográficas
são fontes ocidentais. Nesse texto irá ser abordado o período Taisho do Japão
(1912 até 1926), tatuagem e vestimenta dentre da obra Kimetsu no Yaiba.
A nossa análise começa com as roupas dentro do mangá.
Podemos ver que até o capítulo 13, quando se a história de passa nas pequenas
cidades ou aldeias japonesas, os personagens usam roupas tradicionais
japonesas, conhecidas como quimono. Podemos dizer que o quimono não é uma veste
específica, mas uma maneira de se vestir. Sobreposição de roupas compridas e de
mangas, calças só passaram a ser usadas a partir do século VI por influência
chinesa e ainda sim eram apenas amarradas na cintura e soltas no resto do corpo.
Não eram usados tecidos sintéticos e nem lã, a maior parte das roupas eram de
algodão puro ou de seda, essa sendo as peças mais caras.
Com a abertura do país para as relações exteriores como
com países europeus a partir do século XIX, algumas peças de roupas passaram a
ser aderidas pela população dos grandes centros urbanos, que tinham contato direto
com esses estrangeiros. Em Kimetsu no Yaiba, capítulo 13, o protagonista Kamado
Tanjiro vai para Asakusa, a Tóquio antiga. Tóquio é a capital do Japão desde
1868, dentro do seu período imperial. Na obra, Tanjiro fica desnorteado com as
luzes da cidade e todas as novidades. No cenário podemos ver uma transição das
roupas tradicionais para as roupas ocidentais: muitos dos personagens no fundo
usam chapéus da moda europeia ou até mesmo conjunto de camisa, paletó e calça.
Foi durante o período Taisho que o Japão tentou instaurar
a democracia. Porém assim como o cristianismo, a democracia não era aceitável
dentro da aristocracia japonesa. O sufrágio universal só se torna lei em 1925 e
abrange apenas homens acima de 25 anos. Quando tentou ser instaurada logo veio
a participação do Japão na Primeira Guerra Mundial. Que pode ser resumida em
conquista do mercado asiático e fornecimento de equipamento bélico para a Europa,
assim como químicos e medicamentos, o que fez enriquecer o país e abrir ainda
mais as fronteiras para o estrangeiro. O crescimento da economia durante apenas
durante a recuperação da Europa, quando não se tornou mais tão lucrativo
importar produtos de tão distante. Os japoneses logo conheceram as
consequências do capitalismo; quando a super produção não é consumida e tem o
excesso de produtos. Com a recessão é que começam a surgir novamente as ideias
democráticas e os japoneses começam a desenvolver o nacionalismo. A cultura
tradicional é resgatada, isso incluindo alimentação e vestes. Como podemos ver
o uniforme de uma escola japonesa nesse período. As ideias de nacionalismo vão abrir
espaço para o fascismo japonês, que teve características muito específicas
deveria a sua cultura e ao xintoísmo.
Em Kimetsu no Yaiba temos as Doze Luas, que são os demônios
mais poderosos e liderados por Muzan. Separados em 6 Luas Inferiores e 6 Luas
Superiores. Akaza, Lua Superior 3, apareceu no final do Trem Demoníaco e foi
responsável pela morte de Rengoku, o pilar do fogo.
É um demônio inteligente,
forte e ágil que luta com os próprios punhos. Na sua vida humana ele foi um criminoso
quase condenado a pena de morte. Estima-se que o período que ele viveu a sua
vida humana tenha sido na primeira metade do século XIII (Período Nara) quando
as tatuagens eram usadas como punição. Era a forma de dizer que aquela pessoa
estava marcada para sempre pelo crime que cometeu e teria que conviver com isso
e todos a sua volta saberiam desse crime ao ver a marca no seu braço. Akaza em
vida recebe três marcas por ser um batedor de carteira. Dentro do mangá é
mostrado o porquê de ele receber essa marca, um bracelete preto no braço
direito um para cada vez que ele foi incriminado. O juiz que o condena a essa
marca diz que se tiver mais uma condenação será a de ter o seu punho cortado.
É
provável que por causa desse período da história onde apenas os criminosos eram
tatuados que as saunas e piscinas públicas no Japão não aceitem tatuagens até
os dias atuais e ter uma tatuagem é ser malvisto por todos a sua volta. Akaza
na sua vida como demônio tem essa mesma marca por todo o corpo, nos volumes que
mostram a sua vida é possível ver que ele vivia com a culpa de ser um batedor
de carteiras, mas que lutar e ter raiva era a única coisa que ele conhecia além
do amor por seu pai e pelas pessoas que o aceitaram mesmo sendo marcado com
aquela tatuagem. De certa forma aquelas marcas foram um empoderamento do
demônio, uma ressignificação.
Com isso finalizo a análise histórica e artística do
anime Kimetsu no Yaiba. É uma obra com referências histórias muito bem marcadas
sem perder a fantasia e o desenvolvimento dos personagens, que assim como nós
no mundo real, são frutos do seu tempo e não estão independentes da arte.
Bibliografia:
MUNDO-NIPO. A história do
Japão contada por períodos e eras: do pré-Jomon ao atual. Último acesso em
14/05/2020. Disponível em <https://mundo-nipo.com/cultura-japonesa/historia-do-japao/15/12/2012/a-historia-do-japao-contada-por-periodos-e-eras-do-pre-jomon-ao-atual/>
MANGA YABU!. Volumes 13, 153 e
154. Último acesso em 14/05/2020. Disponível em <https://mangayabu.com/manga/kimetsu-no-yaiba/>
TATTO ERS. Tatuagem japonesa: história do
irezumi, significados e galeria de fotos. Último acesso em 14/05/2020.
Disponível em: <https://www.tattooers.net/pt/a/tatuagem-japonesa-irezumi-historia-significados-galeria-de-fotos/>
CRITICAL HITS. Demon Slayer: Kitmetsu no Yaiba – Todas
as Luas Superiores. Última acesso em 14/05/2020. Disponível em: <https://criticalhits.com.br/anime/demon-slayer-kimetsu-no-yaiba-todas-as-luas-superiores/>
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