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Full Metal Alchemist e as referências a Segunda Guerra Mundial



Esse texto tem como objetivo servir como base para as lives realizadas no instagram @tuifotografia. No presente trabalho será trabalhado a relação entre o anime Full Metal Alchemist de Hiromu Arakawa e os fatos da Segunda Guerra Mundial. Vale lembrar que essa é uma visão ocidental sobre a história, ou melhor dizendo, eurocêntrica. Mesmo se tratando de uma obra japonesa e alguns fatos sendo da atuação do Japão nesse período ainda é o ponto de vista de uma pessoa que estudou a história mundial com fontes eurocêntricas.

É bem explícito as referências as grandes guerras mundiais dentro da obra Full Metal Alchemist. Podemos começar por todos os sobrenomes dos militares serem referências a aviões de guerra. Mustang é referente ao caça North American P-51 Mustang, Hawkeye é o avião tático Grumman E-2 Hawkeye, Hughes é o hidro avião Hughes H-4 Hercules e Armstrong é o avião de bombardeio britânico Armstrong Whitworth A.W.41 Albemarle.

Podemos ver também o fascismo já instaurado na trama; quando nem os próprios militares percebem o mal que fazem para as outras pessoas. Eles estão convencidos de que fazem isso para um bem maior e que a limpeza étnica que fizeram em Ishival foi uma defesa. Quando o Comandante Hughes descobre o que estava por trás daquele ataque a Ishival ele é cruelmente assassinado. A alquimia na obra, que é vista como um elemento fantasioso, pode ser interpretada como experiências com armas biológicas. O alquimista Shou, desesperado para obter resultados e manter os seus status, comete o ato insano de fazer transmutação com a própria família. Primeiro com a sua mulher e depois com a sua filha. Aqui podemos desenvolver como os cientistas que faziam testes nos campos de concentração, e não foram apenas os alemães que fizeram isso e não apenas com os judeus, não viam mais a humanidade nas suas vítimas e eram capazes de fazer coisas desumanas para obter um resultado. Que podia até ser registrado de uma forma diferente para as autoridades para que não soubessem o que estava realmente acontecendo dentro desses campos. Como podemos ver que Shou não informou ao exército que a primeira quimera falante que ele havia feito era a sua mulher.


Toda a história de Full Metal Alchemist se passa logo após o conflito que levou ao grande massacre do povo de Ishival, uma região desértica e distante da capital que sempre esteve em conflito com a mesma por que por muito tempo não era consideram cidadãos. Foi na guerra contra Ishival que os Alquimistas Federais foram usados pela primeira vez, ou seja, foi nesse guerra contra um povo indefeso e em menor número que foram usadas pelo primeira vez as armas biológicas. Podemos ver que o povo de Ishival é racializado: eles possuem as mesmas características de tom de pele, cor de cabelo e dos olhos. E durante as cenas que mostram esses ataques os soldados também foram racializados, que aqui podemos interpretar como ambas as partes tinham uma etnia e elas estavam se enfrentando e uma delas era obviamente mais forte que a outra.


Fazendo a conexão com as grandes guerras mundiais no mundo real é importante contextualizar o Japão no período anterior. Na Primeira Guerra Mundial o Japão era aliado da Inglaterra e forneciam armamento e equipamentos além de tecidos e medicamentos. Como o ocidente estava em guerra, não havia demanda o suficiente para abastecer tudo o que eles necessitavam. Então, mesmos com os altos custos de transporte, era benéfico trazer esses itens do outro lado do mundo. As fábricas eram no território japonês, mas os recursos eram retirados da Coréia que havia sido conquistada na Primeiro Guerra Sino-Japonesa (1894 a 1895). Antes a Coreia era uma península pertencente e com certa autonomia a China; ainda pertenciam ao Império Chinês porem mantinham a sua língua e cultura. Quando foram conquistados pelos japoneses a língua oficial passou a ser o japonês e essa foi apenas uma das mazelas que o Japão fez na península coreana. Com a recuperação da Europa pós primeira guerra mundial, a economia japonesa quebrou. Por ter sido aliado da Inglaterra a sua entrada na Liga das Nações foi quase que automática e o primeiro pedido da mesma foi que ele devolvesse os territórios anexados da China, incluindo a Coreia. O Japão se recusou e começou a sofrer embargos econômicos devido a esse orgulho e resistência.

A quebra da economia do Japão fez crescer o sentimento de nacionalismo dentro do país, que levaria ao fascismo japonês. O diferencial do Japão é que ao contrário dos países ocidentais não houve apenas uma figura que liderava o fascismo: ele foi se desenvolvendo ao longo do período do Império do Japão que são os períodos Meiji, Taisho e Showa. Ou seja, o imperador era o “ditador” deles e as ideias fascistas começavam a crescer desde a Guerra Sino-Japonesa. Portanto quando estoura a Segunda Guerra Mundial no ocidente em 1939, o leste asiático já estava em conflito a muito tempo.

O Japão durante a Segunda Guerra Mundial foi uns dos países do Eixo. Era um acordo entre Alemanha, Itália e Japão que tinham os mesmos interesses e eram países da grande potência ditatorial. Os interesses em comum eram: expansão territorial e a criação de impérios baseado no poder militar e a destruição do comunismo soviético.

Segundo o livro “Salvando a Itália: A corrida para resgatar das mãos dos nazistas os tesouros de uma nação” de  Robert M. Edsel, durante o período ditatorial da segunda guerra mundial dois dos países do Eixo tinha secretarias para confirmar a origem do seu povo. Na Alemanha eles queriam confirmar a ligação do povo alemão com os Vikings. A Itália também tinha para valorizar a história de Roma. Não muito diferente disso podemos citar o Brasil quando Getúlio Vargas proíbe que tenha escolas públicas ensinam outra língua que não o português como primeira língua e falar línguas estrangeiras em locais e eventos públicos. O Brasil na altura era um país com muitos imigrantes e havia cidades inteiras que falavam alemão, ou italiano ou até mesmo japonês. Colocar o português como língua oficial foi para confirmar a história de relação do país com Portugal. Também foi imposto que só brasileiros poderiam estudar em colégios públicos, muitas crianças que de fato nasceram no Japão ou outros países e migraram para o Brasil ainda crianças abriram mão da sua primeira cidadania para poder estudar nos colégios públicos. Na Espanha, Franco fez com que resquícios arqueológicos dos visigodos, presente principalmente no norte da Espanha, fossem distribuídos pelos museus de arqueologia por todo o país e construísse a história de que os espanhóis eram descendentes dos visigodos. Mesmo que algumas regiões mal tivessem os resquícios deles, como na Andaluzia que é uma região muito influenciada pela herança moura, muçulmana. Japão, país que também tinha uma ditadura semelhante ao nazismo e fascismo, não tinha nenhuma secretaria ou lei como essas, porque eles já sabiam que eram filhos do sol devido ao Xintoísmo: religião mais vista como um dever cívico presente na cultura japonesa.

Podemos terminar esse texto pontuando que tanto em Full Metal Alchemist e a história do Império Japonês as ideias fascistas estão tão dentro do contexto que os indivíduos mal a percebem. O fascismo são ideias que desumanizam as pessoas enquanto enriquecem bruscamente uma minoria. No Japão enriqueceu a aristocracia, no anime a riqueza era na forma de pedra filosofal e tanto os protagonistas quanto os vilões estavam em busca delas por um motivo pessoal e emocional.


Bibliografia:

EDSEL, Robert M.. Salvando a Itália. Editora Rocco. 1° edição, 2014. Rio de Janeiro.

HISTÓRIA DO MUNDO. Segunda Guerra Mundial na Ásia. Último acesso em 14/05/2020. Disponível em <https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/segunda-guerra-mundial-na-asia.htm>

ENCICLOPÉDIA DO HOLOCAUSTO. A aliança do Eixo na Segunda Guerra Mundial (artigo resumido). Última acesso em 14/05/2020. Disponível em: <https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/axis-alliance-in-world-war-ii-abridged-article>

MEDIUM. O nazismo de Fullmetal Alchemist. Último acesso em 14/05/2020. Disponível em <https://medium.com/@gague_hero/o-nazismo-de-fullmetal-alchemist-1c4a882050fb>.

FULLMETAL ALCHEMIST. A Guerra Civil de Ishval. Último acesso em 14/05/2020. Disponível em <http://rodandoabaiana.weebly.com/o-massacre-de-ishval.html>

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